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Revista Luz & Cena
Neste espaço, Enrico De Paoli fala de suas experiências e histórias em engenharia de música, estúdios e shows.
Fala também do mercado musical e fonográfico e de suas tecnologias.
Tudo é cíclico
Postado por Enrico De Paoli em 08/09/2012 - 22h49
E o jeito de fazer discos não é uma exceção
Demorou certo tempo até que surgisse o famoso sonho de levar o computador a entrar na engenharia de música (bem, e muitos anos mais para inventarem o tal computador!). Mas quando ele ingressou no estúdio, virou uma festa. Ele chegou com alguma timidez, para não dizer incapacidade. No início, os computadores somente gravavam MIDI. A primeira vez que vi um Mac gravando e reproduzindo áudio foi simplesmente emocionante! E eu pensei: "um dia os estúdios não terão mais mesas.". Demorou até os sistemas de gravação em computador ficarem com capacidade o suficiente para abandonarmos as fitas de gravação, mas este dia chegou, e ficamos com os Macs "voltando" áudio nos canais das mesas.

Não existia processamento suficiente para abrirmos plug-ins em todos os canais, e nem o som dos plug-ins era lá essas coisas. Isso seria um sonho, e este sonho, sim, foi realizado. Temos MacBooks rodando Pro Tools com plug-ins em todos os canais. O áudio soa ótimo e os plug-ins também. Cabe dentro de uma mochila pequena. Isso pra não dizer onde já estamos rapidamente chegando com os iPads. E, agora, qual o sonho de todo mundo? Ter uma mesa analógica clássica, pré-amps valvulados e compressores com botões enormes!

Vamos lá: faz realmente alguma diferença? Que pergunta complicada e que resposta delicada! Vamos começar por algumas vantagens da nossa atual era tecnológica. Para início de conversa, antigamente só gravava disco quem tinha a enorme sorte de ser contratado por uma gravadora, e para ser engenheiro de música, tinha que. nem eu sei! A profissão era desconhecida! Hoje, qualquer pessoa pode comprar um notebook e gravar um disco (às vezes, isso pode não ser tão bom...). Antes, um disco era feito em períodos de horas alugadas de um estúdio. Era caríssimo e depois que você saía entrava um outro cliente, que e mexia em todas as suas regulagens e você nunca mais voltaria naquela mix, caso precisasse. Hoje você grava quando quiser e onde quiser. Mas e o som?

Um Amplitube substitui um amplificador Fender, uma sala maravilhosa e um Neumann M49? Digamos que o som do simulador é inacreditável, mas as milhares de variantes que se consegue com o real são únicas. Agora, se você não tiver o amp Fender, a sala maravilhosa e o M49, com certeza terá um melhor timbre no Amplitube do que no home studio do seu vizinho. E os equalizadores? Um Pultec, por exemplo. As válvulas estão em alta há um bom tempo. Não sei o que acontece com valvulados. Devem ser sexy, pois são realmente desejados. O mais curioso é que os dois pré-amps mais famosos da história, Neve e os API, não são valvulados. O que acontece é que a grande característica do som de um valvulado vem mais do transformador de entrada do que da válvula em si. E a maioria dos equipamentos valvulados (caros) têm bons transformadores em seus designs.

Pois bem, e o que isso tem a ver com os plug-ins? Quem é melhor? Quando o áudio passa por esses transformadores ele é muito modificado. Sim, um famoso Neve, por exemplo, causa uma mudança tão radical no som que ele não seria indicado para uma gravação de cordas que pede uma sonoridade natural e transparente. No entanto, todas as variações, cores, reações que um Neve tem ao receber as mais variadas nuances de música não são tão simples de simular. E tem mais: além da impedância do pré-amp alterar o som lá dentro do microfone, estes transformadores dentro dos prés emitem harmônicos bem diferentes quando alimentados com muito ganho, causando até mesmo uma compressão no áudio. Sim: muitos equipamentos somente em ter o áudio passando por eles com um certo ganho não apenas respondem com mais harmônicos, engordando o som, como também o comprimem, causando aquela sensação de que tudo está mais alto, gordo, no lugar, com os sons todos parecendo mais um único disco. Ou seja, tudo aquilo que a gente busca quando está mixando uma música dentro do computador.

Vale lembrar que cada equipamento causa isso tudo de forma diferente. Se não fosse assim, só existiria um único compressor, um único pré-amp e um único equalizador. E se colocássemos, digamos, 6 dB em 1 kHz em dois Eqs, ambos nos dariam o mesmo resultado. E não é esse o caso. Cada eletrônica reage de forma diferente à quantidade de ganho passando por ela e de acordo com as características do áudio que por ali passa e é processado. Isso tudo torna o plug-in pior? Não. Ele oferece mil vantagens, como preço, tamanho, recall, automação, estabilidade no timbre, quantidade disponível por música etc., mas não tem como emular toda e qualquer situação que um equipamento real geraria.

Se alguém disser ao ouvir uma música no rádio que aquele Eq da voz é plug-in ou real, creio que a afirmação não será feita com tanta certeza, mas pode ser que, no todo, note-se uma mix com um outro resultado. Absolutamente melhor? Não. Absolutamente diferente? Muito possível. Mas não se preocupem: essa insatisfação que faz com que sejamos "do contra" e queiramos os equipamentos todos de volta justamente quando o computador passa a dar conta de tudo não é um privilégio dos engenheiros de música. As canetas eram tinteiro e os relógios eram mecânicos, e eram caríssimos. Inventaram canetas descartáveis e relógios de bateria, mas estes não têm a menor graça!

Bons sons, quentes e cheios de harmônicos (se assim combinarem com a música), nos botões ou nos mouses!

Enrico De Paoli é engenheiro de música. Mixa e masteriza em seu Incrível Mundo Studio e soma classic & analog. Trabalhos recentes incluem Ária, de Djavan, Vodka Smirnoff (campanha mundial) e Jorge Vercilo. Conheça também o treinamento Mix Secrets. Site: www.EnricoDePaoli.com.
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