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Revista Luz & Cena
Editorial
EDITORIAL
O Som de Liverpool, da Filadélfia ...
Sólon do Valle
Publicado em 01/12/2002 - 00h00
É uma estranha cultura, essa do antigo. Arranjamos até um nome para ele: Vintage.
Estúdios equipados com equipamento das décadas de 70, de 60 e até de 50 (meio século!) são apreciados pelo som dito "quente".
Um amigo uma vez me perguntou: "Você usa a mesma guitarra dos Beatles, o mesmo amplificador dos Beatles, as mesmas cordas, a mesma palheta, o mesmo microfone... por quê não consegue o som dos Beatles?" Há duas respostas, uma óbvia e outra nem tanto:
primeiro, é claro, porque você não é John Lennon, George Harrison nem Paul McCartney; segundo, porque falta aquele algo mais, que convencionamos chamar de magia, química ou outro nome mais esotérico.
Não existia magia nenhuma. Nem o equipamento era mágico. Tudo bem, havia muitas válvulas e fitas no caminho; mas, mesmo dispondo de todas essas tintas e pincéis, as cores hoje saem diferentes. Faz sentido agora o culto ao antigo?
Sinto que se perdeu, entre gigabytes, quilohertz, decibéis e semifusas, parte da arte divina de fazer som. Esqueça os anos 40 e 50 - o som ainda era muito ruim. Mas... repare na qualidade da gravação da voz dos clientes de Abbey Road. Salte dez anos para a frente; ouça o som das gravações da era da discothèque. Nossa! Como era bom!
É certo que alguma coisa se perdeu no caminho. As gravações digitais têm um som limpo e lindo. Porquê, então, as gravações de hoje não são infinitamente melhores?
Tá na cara: porque ninguém quer! Perdeu-se a vontade da fazer arte. Qualidade pra quê? É a era da quantidade. "Meu CD toca mais alto que o do meu concorrente, logo é melhor! Vou vender mais!"




 
 
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