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Revista Luz & Cena
Notícias do front
O Volume da sua mixagem está correto?
Renato Muñoz
Publicado em 10/09/2016 - 00h00
Esta realmente é uma pergunta difícil de ser respondida, simplesmente por existirem diversos fatores que devem ser levados em consideração quando vamos discutir este tema: desde o tipo de programa que estamos mixando, passando pelo tipo de evento, ambiente, além de fatores que estão fora do nosso controle.
Há, basicamente, duas maneiras de trabalharmos em relação ao volume (Pressão sonora) do sistema de sonorização. Uma é quando um limite qualquer é estabelecido (Veremos como isso pode acontecer mais a frente) e a outra é quando este limite não existe e quem determina isso é a pessoa que está mixando (Em alguns casos, junto com o técnico do sistema).
Muito do que acontece de errado em relação ao volume de uma mixagem se deve, principalmente, a falta de bom senso e de experiência. Alguns técnicos, simplesmente, não se preocupam com isso e trabalham com um volume muito acima do necessário. Outros, por sua vez, ainda não conseguem perceber que estão passando do limite e prejudicando o seu trabalho.
Também há a tradicional necessidade de grande parte do público brasileiro desejar um volume mais alto. Cansei de assistir a shows com um volume confortável e observar comentários de pessoas como "o som deveria estar mais alto" e "assim parece ruim". Claro que isso não ocorre só aqui no Brasil, afinal de contas, cada país possui características diferentes de público.


O que é importante para nós que trabalhamos com áudio é saber atuar com ou sem limites. Devemos, também, saber resolver problemas que dificultem o nosso trabalho dentro de limites estabelecidos. Devemos conhecer os equipamentos de medição, entender um pouco de como as leis funcionam (já que são tantas, tão diferentes) e, principalmente, usar o nosso profissionalismo.

COMO ADPTAR O VOLUME DA MIXAGEM A DETERMINADOS EVENTOS?
Para mim, bom senso e profissionalismo! Essa seria a resposta mais objetiva. Tudo vai depender destes dois fatores e, principalmente, de como os produtores executivos e produtores técnicos do evento, além do técnico do sistema e do técnico da banda, irão trabalhar. Todos esses profissionais são responsáveis por algum ponto dessa história - desde estabelecer limites, controlar estes limites e, principalmente, obedece-los.
Trabalhando com o Skank há cerca de quinze anos, já participei de todo tipo de evento que se possa imaginar. Em festivais nacionais, festivais internacionais, eventos corporativos, eventos particulares e shows em geral, sempre procuro me adaptar, o que nem sempre é fácil. E olha que eu não estou nem falando sobre trabalhar dentro de determinados volumes.


Pior que trabalhar dentro de determinados limites de volume (Quando eles fazem sentido) é ter que trabalhar acima do que acho "aceitável", situação comum em festivais. Imagine que a banda anterior a sua trabalhou com uma média de 105 dBA. Se você trabalhar com 95 dBA, a sua mixagem pode estar perfeita, porém, o público tenderá a achar que a sua mix está pior que a anterior.
Algumas bandas possuem repertórios diferentes, que dependem do tipo de evento no qual elas estão tocando. Da mesma forma, podemos trabalhar com o volume da mixagem. Um evento corporativo para quatrocentas pessoas, por exemplo, não precisa ter a mesma pressão sonora que um show convencional para duas mil pessoas, mesmo que as duas situações ocorram no mesmo lugar.
O volume do sistema deve ser responsabilidade do técnico que está mixando. Ele deve estar preparado para adequar o SPL às necessidades do evento. Com um pouco mais de experiência, esta adequação fica mais natural, mas nem sempre é fácil manter este controle, pois alguns sistemas podem ser superdimensionados, com mais som que o necessário, daí, a importância da decisão do técnico.

CUIDADOS E SOLUÇÕES PARA AJUDAR O NOSSO TRABALHO EM RELAÇÃO AO SPL
Um dos grandes problemas em relação ao volume do sistema é, na verdade, o volume dos instrumentos e dos monitores no palco. Dependendo principalmente do tamanho do ambiente, quanto menor for este ambiente, maior serão os problemas para o técnico de PA. Muitas vezes, já vi o som do palco ser mais alto que o som do próprio PA, o que, obviamente, dificulta - e muito - a mixagem.


Em ambientes pequenos e até médios, quando a plateia consegue ouvir bem o som do palco, sempre haverá a possibilidade deste som influenciar no volume geral da mixagem. Quando isto ocorre, técnicos mais experientes "ouvem" primeiro o som que vem do palco para, depois, apenas "colocar" os instrumentos que estão faltando. Essa não é a melhor situação. É apenas uma maneira de adaptar a mixagem.
Quando isso ocorre (E não são poucas vezes), o técnico perde a capacidade de mixagem, principalmente a capacidade de baixar o volume dos instrumentos mais altos. Para isso não acontecer, ele deve contar com a ajuda tanto dos músicos quanto do técnico de monitor (Se a banda utilizar caixas e side fill). Caso contrário, a mixagem do show, certamente, ficará prejudicada.
Em relação aos instrumentos no palco (Caixas amplificadas), uma ideia seria vira-las para o lado ou para trás (Tirando o som do público). A utilização do acrílico na frente da bateria ou de algumas caixas amplificadas também ajuda bastante na redução do som que sai do palco. Uma situação mais que ideal seria ter todos os instrumentos captados em linhas, usando simuladores, porém, tenho dúvidas da qualidade sonora final.
Além dos instrumentos, a outra grande fonte sonora no palco são os monitores, principalmente o side fill. Hoje em dia, muitas bandas trabalham com fones de ouvido, o que reduz ou acaba com a emissão sonora do palco. Quando trabalhamos no palco com caixas, normalmente, o "instrumento" que se mais ouve é a própria voz. E os instrumentos não amplificados no palco são os que ficarão fora do nosso controle.

MIXAR MAIS ALTO É MELHOR QUE MIXAR MAIS BAIXO?
Na verdade, essa pergunta é mais uma provocação. Como ouço muito mais mixagens com um volume alto do que mixagens com volume mais baixo, acho que isso pode ser um padrão. Eu já me deparei com situações em que acabei optando por mixar mais alto e a minha impressão é que, dessa forma, fica mais fácil esconder alguns defeitos.
Para ser franco, mixar baixo era realmente uma coisa difícil para mim quanto comecei a trabalhar. A ideia era que tudo tivesse de ser alto, com pressão. Passados alguns anos, já não penso mais assim, porém, confesso que ainda é difícil manter o controle e, principalmente, o volume dentro de um nível que não extrapole os limites, claro que isto depende do artista, da situação, etc...
Recentemente, passei por duas situações relativas a SPL que me fizeram repensar algumas coisas. A primeira foi durante o show do Metallica no último Rock In Rio (2015). Pude assistir ao show da house mix, ao lado do técnico de PA, e o SPL foi em média de 110dBA. Depois de passados 1h30 de show (Mais ou menos a metade), comecei a me sentir bastante incomodado com o volume e acabei indo embora.


Por outro lado, a cerca de dois meses fiz alguns shows com o Skank nos Estados Unidos e, em um deles, havia um limite de 95dBA (Tudo combinado antecipadamente e com as medições sendo feitas da maneira correta). Fiquei meio desconfiado se daria certo, mas, para a minha surpresa, consegui trabalhar facilmente e diria, orgulhosamente, dentro dos limites estabelecidos, com boas críticas da plateia.
Na verdade, o importante é se sentir confortável e deixar o público e a banda confortáveis com o seu trabalho. O importante é saber qual o momento para uma mixagem mais alta e qual o momento para uma mixagem mais baixa. Além disso, devemos entender que um sistema bem dimensionado e bem distribuído permite uma mixagem mais baixa, porém, com uma cobertura sonora agradável.

O QUE FAZER QUANDO EXISTEM LIMITES ESTABELECIDOS?
A resposta é bem simples, devemos segui-los! O problema é que, normalmente, duas coisas acontecem e que atrapalham o nosso trabalho. A primeiro é que, raramente, alguém da produção do evento se lembra de avisar sobre estes limites, e os técnicos acabam pegos de surpresa. A segunda e mais tradicional é que os limites estabelecidos são quase sempre impossíveis de serem mantidos.
Não sou contra limites de SPL, muito pelo contrário, acho muito importante, principalmente, para a nossa saúde auditiva (Técnicos e público). Também acho que a vizinhança não deve ser importunada além de um limite civilizado (Como eu não gosto de ser). Existem outros motivos que nem sempre são compreensíveis, porém, podem fazer parte das regras.


Como se diz normalmente, o combinado não sai caro. Toda vez que sou avisado antecipadamente que existe alguma limitação de volume (SPL), primeiro procuro checar se os valores que serão impostos fazem algum sentido e serão possíveis de serem alcançados (Posso me reportar ao escritório de banda caso veja algum problema) e, depois, posso me preparar para trabalhar.
O grande problema é: que limites são estes? Como eles foram estabelecidos? Quem fará as medições necessárias durante os eventos? Como estas medições serão feitas? Existe algum tipo de multa estabelecida se excessos forem cometidos? Tudo isso deve ser levado em consideração, principalmente na metodologia da aplicação do limite e, mais importante ainda, na forma como será feito o controle do volume.
Não existe muita lógica para os padrões estabelecido. As leis são - como sempre - confusas e variam muito, dependendo da situação e, até mesmo, do Estado. Além disso, as pessoas responsáveis pela medição normalmente não têm ideia do que estejam fazendo e, principalmente, não possuem o conhecimento técnico para operar os aparelhos de medição.


COMO MEDIR O VOLUME DA NOSSA MIXAGEM
Independente da maneira como medimos o som da nossa mixagem, os nossos ouvidos sempre devem dar a palavra final. É claro que a experiência ajuda bastante. Nesse momento, o mais importante é sabermos quais são os equipamentos que podemos utilizar para fazer estas medições e, principalmente, como eles funcionam e como podem nos ajudar.
A primeira coisa que nos vêm a cabeça quando pensamos em medir o SPL é um decibelímetro. O problema desse equipamento é que, normalmente, a pessoa encarregada pelas medições não tem ideia do que está fazendo, então, acaba fazendo alguma besteira, o que pode prejudicar o nosso trabalho. Mais uma vez, temos que dominar um equipamento relacionado diretamente ao nosso trabalho.
Podemos encontrar, no mercado, decibelímetros que variam entre R$150 e R$10 mil. É claro que, para o nosso dia a dia de trabalho, não precisamos de nada tão caro. O mais importante é ter certeza de que o equipamento está calibrado corretamente, caso contrário, as medições não farão muito sentido. Então, a primeira dica é comprar um aparelho que possa ser calibrado.

Existe um outro aparelho chamado calibrador que, como o próprio nome já diz, ajuda a calibrar o decibelímetro (Procure o manual do decibelímetro para saber se existe essa possibilidade). Outro fator importante é saber com quais níveis de decibéis o aparelho trabalha, ou seja, qual o volume mais baixo e o volume mais alto que ele consegue medir.
O mais importante é saber se o aparelho trabalha nas curavas de ponderação A (Mais parecida com o que nós ouvimos) e C (Uma resposta mais "flat"). Para o nosso dia a dia de shows, podemos trabalhar com a escala A, sem problemas. Outro fator muito importante é o local que a medição deve ser feita. Isso pode variar entre o meio do publico, a house mix ou o lado de fora do local do evento.
Tags: Mixagem
 
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