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Revista Luz & Cena
Em Tempo Real
Fernando Narcizo
Márcio Teixeira
Publicado em 11/08/2016 - 00h00

O técnico de PA Luiz Fernando Narcizo de Oliveira, conhecido no mundo do áudio simplesmente como Fernando Narcizo, nasceu em São Paulo há 43 anos. Sua lembranças mais antigas que remetem a música lhe falam sobre uma atração que, aparentemente, sempre existiu. "Ainda criança, eu pegava vinis da Som Livre e ouvia Ataulfo Alves, Altemar Dutra, Lupcínio Rodrigues e Dorival Caymmi", diz Fernando, lembrando-se de discos nada infantis que pertenciam à sua mãe, Dona Zilda. Na época, suas tias frequentavam bailes como Chic Show, Os Carlos, os do Palmeiras, onde, de acordo com palavras do próprio Narcizo, endossadas por quem lembra, o som comia solto. "Minha tia tinha um Polivox eu queria ouvir Tim Maia , Commodores, Earth Wind and Fire... Sempre gostei de cantar. Imitava cantores... Era aquela graça (risos)", lembra o técnico. Bem-humorado, ele revela que até hoje, quando um artista não vai passar o some, ele já corre para o palco, sempre pronto para mostrar um pouco de seu talento.

Em 1989, Narcizo ingressou na empresa de som Instalsom, onde começou atuando como office boy. "Eu fazia o pagamento dos funcionários do galpão, e, quando vi uma mesa de som pela primeira vez na vida, fiquei alucinado", recorda. Daí para o trabalho com o áudio em si foi um pulo. Ainda na Instalsom, Narcizo se lembra de ter ido fazer o carnaval no Rio de Janeiro, e nessa aventura teve a oprtunidade de trabalhar ao lado de nomes como Sólon do Valle, Vinicius Brasil, Chuvisco, Carlinho e Enzo Mauri. "Aprendi muita coisa com eles", afirma.

De vez em quando, quando ainda na Instalsom, Tuka, dono da Tukasom, ia pegar caixas de som na empresa e Narcizo sempre fazia a limpeza delas antes da entrega ao cliente. "Ele ficava falando para eu ir trabalhar com ele, e eu dizia que não podia... (risos) Um dia fui ver o Tuka fazendo um show do Ney Motogrosso. Quando vi aquele acabamento no palco, fiquei mais louco ainda. Pedi as contas e fui para a Tukasom. Foi então que tudo 'bombou'. Cada dia de trabalho era uma verdadeira aula que eu recebia", diz Fernando (que também atuou nas empresas Sunshine, Transasom, R4 Som, Maxi Audio, Loudness e Piu Som). A partir daquele momento ele passou a trabalhar com bandas e não parou mais.

De lá pra cá, Narcizo já fez ou ainda faz o PA de nomes de diversos estilos dentro da música brasileiro. A lista é grande: Chico César, Titãs, Zeca Baleiro, Rita Ribeiro, Funk Como Le Gusta, Paula Lima, Nando Reis, Sérgio Brito, Paulo Miklos, Itamar Assumpção, Anelis Assumpção, Arnaldo Antunes, Art Popular, Wilson Simoninha, Max de Castro, Thaíde, Trio Mocotó, Jair Oliveira, Jair Rodrigues, César Camargo Mariano, Mestre Ambrósio, Jorge Ben Jor, Emicida, Sandy e Junior, Nação Zumbi, Passo Torto, Rodrigo Campos, Bixiga70, Swami Jr., Marcelo Jeneci, Metá Metá, Karina Bhur, 5aSeco, Isca de Polícia e Russo Passapusso, entre muitos outros. Para a cantora Céu, uma exceção: Fernando fez o monitor, e não o PA. Entre os artistas com os quais Narcizo trabalha atualmente, destaque para Black Alien, Criolo, Luiza Possi, Arnaldo Antunes, Elza Soares, Tó Brandileone, Guilherme Kastrup e Marcia Castro.

Já no "lado gringo" do seu currículo constam trabalhos de PA para o pianista cubano Roberto Fonseca e para a baixista Esperanza Spalding, além de monitor para Ray Charles, B.B. King, Nina Simone, Paul Di'anno e Ten Thousand Maniacs e o trabalho como montador para Spyro Gira e para as orquestras de Nova York, de Israel (com Zubin Mehta) e de Munique. Na lista de eventos nos quais Narcizo já atuou, destaque para carnavais do Rio de Janeiro (1990 a 1996), Free Jazz Festival (2000 a 2003), Chivas Jazz Festival (2000 a 2003), Festival TV Cultura 2005, MTV VMB (2002 a 2011), Skol Rio 2004, Skol Beats (2003 a 2006), Festival Rec Beat (2003 a 2016), Festival Reggae On The River California e Tour Europa e USA (2000 a 2008) de Chico César.

"Quando fui chamando para a primeira tour na Europa com o Chico César, eu tinha 25 anos. Como o tempo passou rápido... (risos) Antes da excursão, a empresária Constanze marcou uma reunão comigo e perguntou se eu tinha passaporte. 'Tenho, sim!', eu disse, mas não tinha nada! Ela, então, perguntou seu eu poderia viajar em determinado período, e eu, moleque, respondi 'bem, primeiro tenho que ver minha agenda'", recorda o técnico, rindo muito. "Ela disse para eu ver a agenda e depois falar com ela. Terminada a reunião, saí como um louco, pulando de alegria na rua."

Após tanto tempo na estrada, agora Fernando também se aventura por outra área, o da produção de trilhas. "Tô gostando muito. Já criei duas, com ajuda de parceiros como Evaldo Luna, Ivan Teixeira e Rovilson Pascoal. O ingresso na área tem a ver com a minha esposa (Milò Martins), que é lighting designer e diretora técnica do espetáculo A Menina e o Sabiá, do Grupo Ares e que tem direção de Mônica Alla. Além de fazer a trilha dele, também fiz a do espetáculo Mova-se." Também vale citar que, no mundo além-música, Fernando tem outra paixão: cozinhar. Atividade que, baseada na mistura e dosagem de ingredientes, tem muito a ver com a arte da mixagem, segundo o técnico.

Perguntado sobre o que é preciso para ser um bom técnico, Narcizo apresenta a sua receita. "Cara, o negócio é ouvir muita música , mas ouvir mesmo, e estudar sem noia", lista ele, mais uma vez cheio de humor. Sobre os planos para o futuro, estão em seu mapa mixar um disco e pagar seu apartamento.



BATE-BOLA

Consoles: Midas XL4 e Amek Recall Rupert Neve

Microfones: DPA

Equipamentos: Compressor dbx 160 e Manley Vox Box

Monitores: d&b audiotechnik

Periféricos: Meus pedais (risos)

Melhor equipamento que já usou: Sistema d&b audiotechnik no festival Roskilde, na Dinamarca

Última grande novidade do mercado: Consoles DiGiCo e Allen & Heath

Melhor casas de shows do Brasil: HSBC Brasil, em São Paulo

Melhor companheiro de estrada: São vários. Posso citar Antônio Marques Piu-Piu, Gustavo Lenza, Mario Amaral, Andreas Schmidt, Gabriel Spazziani, Festa Galo, Eduardo Lemos, Renato Coppoli, Canrobert, Ohata, Nivaldo Costa, Paulo Seminati, Rubens Damasceno, Paul Lewis, Gury, Nino e Dalvino Machado, além do nosso garande amigo, o falecido Claudio Fujimori.

Melhor sistema de som: Os da d&b audiotechnik

Processador: Dolby Lake

Plug-in: Classic Limiter 1176, da Universal Audio

SPL alto ou baixo? Na medida. Som gostoso, com aquela gordurinha, mas sem deixar o colesterol alto (risos).

Melhor posicionamento da house mix: Sempre no centro, para você ouvir o que tá rolando. Posicionada ao lado funciona, mas não é legal. O mais chato é quando você tá em festivais quem têm dois palcos e a organização coloca a house no meio. Aí seu estéreo foi pro saco.

Unidade móvel: Audiomobile e Mix2Go

Técnicos inspiração: Tuka, Armando Baldassarra, Roberto Ramos, Victor Correa, Marcelo Salvador, Evaldo Luna, Gustavo Lenza, Daniel Ganjaman, Buguinha Dub, Bruno Buarque e Victor Rice. Eu não tenho palavras sobre esses caras.

Sonho na profissão: Viajar com um baita equipamento (risos), o que é utopia nos dias de hoje

Sonho já realizado na profissão: Ter feito som pra muita gente boa

Dicas para iniciantes: Andar limpinho! (risos) Agora, falando sério, estar sempre atento ao que você vai fazer e estudar música. Pelo menos um instrumento. Você vai ver que a vida muda. Agora, depois de velho, estou estudando piano e baixo.


 
Conteúdo aberto a todos os leitores.