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Revista Luz & Cena
Em Tempo Real
Gustavo Potumati
Márcio Teixeira
Publicado em 03/02/2016 - 00h00

O técnico Gustavo Potumati, 38, lembra claramente como começou sua relação com a música e, consequentemente, com o som. Ele ainda era pequeno, com três ou quatro anos, e seu pai tocava violão para embalar o sono do pessoal de casa. "Ele cantava uma música com melodia doce, e, em determinado momento, no final da música, ele fazia, com uma voz gutural, 'leeeva eu'... A gente morria de medo e dormia logo", recorda, com bom humor. O passo seguinte à brincadeira veio por volta dos dez anos, quando Gustavo começou a aprender com o pai os primeiros acordes no violão. "Nesse interim, jogamos muito videogame, e o som da televisão era ruim pra jogar um jogo chamado Rock And Roll Racing. Então fiz um cabo pra conectar no 3 em 1 de casa. Esse jogo tinha trilhas como Paranoid e era muito mais legal jogá-lo ouvindo a trilha sonora no sonzão", destaca.

A primeira mesa de som na qual Potumati colocou as mãos foi uma Staner. "Eu tinha 14 anos e, na época, usava amplificadores de som doméstico, como os Gradiente A1 e H2, além de caixas Staner e EMC. Quase na mesma época comprei meu primeiro contrabaixo e descobri que esse era o instrumento que eu mais gostava." E de jovem baixista para jovem técnico não demorou muito, embora dois anos, na vida de um adolescente, seja muito, muito tempo.

"Por volta dos 16, 17 anos, conheci um cara chamado Samuel Lorenzetti, o Samuca. Ele foi o técnico de som da minha primeira banda e o responsável por me apresentar o equalizador gráfico de 31 bandas por oitava e sistema de som profissional. Através dele conheci um pouco mais de eletrônica também. Ele nos ajudou a construir os crossovers passivos do nosso PA no nosso primeiro estúdio de ensaio. Eram caixas de som domésticas que ele ajudou a 'envenenar' com alto-falantes Oversound de 15'', drivers fenólicos e tweeter Selenium", lista Gustavo, que, com a banda, passou a registrar sons em gravadores Porta Studio, de fita k7, depois em Tascam, com fita de rolo de 1/2 polegada, até chegar nos computadores. "Comecei mesmo a viver de som ao vivo perto do fim da banda, por volta de 2001."

Desde então, Gustavo trabalhou como freelancer em algumas empresas no norte do Paraná, mas seu foco sempre foi o trabalho com bandas, músicos e artistas. Ainda no Paraná ele teve a oportunidade de fazer um concerto com o mestre Hermeto Paschoal, além de algumas bandas de rock, como a americana Medications e a paulista Debate. "Quando retornei a São Paulo, trabalhei em uma casa de shows em Moema, a Ao Vivo Music, onde pude atuar com alguns grupos de jazz e artistas como Ivan Lins, Fafá de Belém, Zimbo Trio, Jair Rodrigues, Leila Pinheiro, Toquinho, Guinga, Filó Machado, Kurt Rosenwinkel, Anthony Wilson, Hamilton de Holanda e Chico Pinheiro. Após esse período, voltei a trabalhar com bandas, como Banda Black Rio, Nasi, produtoras e festivais como SubRapCombo, com os grupos Antipop Consortium, Mtakara + R.Brandão e a HighlightSounds, com quem fiz shows do Biohazard", conta o técnico.

Atualmente, Gustavo divide sua agenda entre Titãs (é técnico de PA da banda há cinco anos), a cantora Céu (há dois anos atua como técnico de monitor e diretor técnico) e trabalhos com selos/produtoras como o Desmonta, por meio do qual fez shows de nomes como Lee Ranaldo and The Dust, Joe Lally e os escandinavos Speeq e Atomic, entre outros. "Outro selo com o qual trabalho e que vale destaque é a Norópolis. Com ela, tive a oportunidade de fazer Pharoah Sanders, Hurtmold + Paulo Santos (Uakiti).

Questionado sobre o que é necessário para ser um profissional que realiza seu trabalho com excelência, Gustavo lista alguns fatores, mas destaca que desenvolver a percepção é essencial. "Percepção tanto musical quanto no sentido de perceber a situação, o momento. Saber tocar um instrumento é importante, ouvir música, conhecer vários estilos, sim, é importantíssimo também. A cada dia temos situações diferentes acusticamente e sistemas de som diferentes, e cabe a nós fazer soar bem nestas situações", observa.

Sobre planos para o futuro, Potumati afirma que pretende aprimorar a qualidade do seu trabalho, ampliando o leque de artistas e bandas com os quais atua, "além de dar continuidade aos trabalhos atuais, sempre somando técnica, musical e esteticamente à mixagem em si".


BATE-BOLA

Console: Midas Heritage 3000

Microfone: Neumann U87

Equipamento: Um bom analisador de espectro, como o Smaart

Periféricos: Compressor Teletronix LA-2A, da Universal Audio

Processador: Galileo 616, da Meyer Sound

Plug-ins: Não tenho um plug-in preferido, inclusive pefiro usar um kit básico de plug-ins do console disponível, pois a cada situação temos um pacote diferente. Mas acho legal estarem criando delays com característica analógica, o que possibilita fazer dubs com um pouco mais de legitimidade.

In-ear: Westone W60

Monitor de chão: d&b Audiotechnik M2

Mixagem ideal de monitor: Aquela em que você ouve os instrumentos em volume suficiente para completar o som acústico e com a pressão sonora ideal

Última grande novidade do mercado: Sistemas compactos e de alta performance, como d&b e K-array

Melhor casa de show do Brasil: Atualmente, o Espaço das Américas é um espaço legal pra shows maiores

Melhor es companheiros de estrada: O bom humor e um bom equipamento

Melhor sistema de som: L'acoustics V-Dosc

SPL alto ou baixo? Por que? A ideal para o estilo sonoro com o qual você trabalha. Em alguns estilos, como jazz e MPB, altos níveis de SPL serão um fracasso, mas com um grupo de metal não há como trabalhar com SPL baixo.

Melhor posicionamento da house mix: Hoje em dia, softwares ajudam a definir as posições ideais do sistema e da house mix. Mas, quando não temos essa ferramenta à mão, a house mix deve ficar no meio do público, onde o técnico terá uma referência melhor do som que o público está ouvindo e também conseguirá ver o que o artista está fazendo no palco. Sobre a distância em relação ao palco, ela pode ser calculada de forma que não fique mais distante do que uma vez e meia a distância entre as caixas do sistema principal.

Unidade móvel: Epah!

Técnico inspiração: Jim Warren, do Radiohead

Produtor inspiração: Rick Rubin

Sonhos na profissão (1. a realizar 2. já realizado): 1. Viajar com sistema de som igual sempre 2. Sobreviver de áudio por escolha própria

Dica para iniciantes: Não desista dos seus sonhos, ouça muita música e leia sempre antes de girar os botões
 
Conteúdo aberto a todos os leitores.