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Revista Luz & Cena
Em tempo real
Roberta Siviero
Márcio Teixeira
Publicado em 05/06/2015 - 00h00
Daniel Bernardinelli
 (Daniel Bernardinelli)
Roberta Neves Siviero ignorou que o mundo dos técnicos de PA é essencialmente masculino e "caiu dentro". Aos 36 anos, "Beta" - para os amigos - dá um rápido mergulho num passado não tão distante para recordar que, desde que se entende por gente, é extremamente ligada à música. Muito curiosa, sempre quis saber, em detalhes, como as coisas do mundo do som funcionam.

"Desde novinha sabia que queria trabalhar com música de alguma forma, quando crescesse. Tinha amigos músicos e adorava ir aos ensaios em estúdios e aos shows. Eu era do grêmio do Colégio Salesiano, de Niterói, e realizávamos festival de bandas, shows em alguns eventos na escola, e assim fui conhecendo, timidamente, a parte dos bastidores", afirma ela, que aos 19 anos começou a namorar um guitarrista que veio do Rio Grande do Sul para o Rio de Janeiro com sua banda. Roberta começou a acompanhá-lo nas gravações que o grupo fazia e se encantou com o mundo de botõezinhos e possibilidades. "Isso foi entre 1998 e 1999. Peguei bem aquela transição do analógico pro digital", afirma ela.

Roberta, então, descobriu o curso superior técnico de Tecnologia de Gravação e Produção Fonográfica da Universidade Estácio de Sá, criado e coordenado pelo produtor musical Mayrton Bahia. Ela conta que iniciou a jornada de aprendizado pensando em trabalhar com produção musical, mas que quando começou a aprender sobre os processos de gravação, mixagem, masterização, periféricos, softwares e a ouvir e analisar músicas, se encantou com a parte técnica. "E desde lá nunca mais larguei ou deixei de me encantar com essa área, que é muito rica, abrangente, e que te possibilita um crescimento diário", destaca ela.

Radicada em São Paulo desde 2005, após ir para a cidade trabalhando como microfonista no espetáculo Um Circo de Rins e Fígados, de Gerald Thomas, Roberta, desde então, já atuou como freelancer para empresas como Gabisom, Maxi Audio, Loudness, Tukasom, Phobus e TrBr. "Atuo em alguns programas de TV e desde 2009 tenho feito mais shows, que é meu foco principal, tanto fazendo PA quanto monitor, além dos freelas com empresas de som", pontua a técnica, que já trabalhou com artistas como Vespas Mandarinas, Daúde, Filipe Catto, Teatro Mágico e Felipe Cordeiro. Atualmente é técnica de som ["quase sempre fazendo PA e monitor"] das bandas Vivendo do Ócio, Medulla, Planar e Coyotes, entre outras. Também está no projeto infantil chamado "Crianceiras", de Marcio de Camillo.

Para ser uma boa profissional, Roberta acredita que o principal é gostar do que se faz. "Para trabalhar com áudio no Brasil você tem que amar [risos], pois é uma área que exige muito de você física, mental e pessoalmente. Amor e dedicação são a base de tudo na vida, não?", observa ela, que sonha em se especializar em montagem e alinhamento de sistemas de sonorização e também em RF; trabalhar em rádio ["sempre foi uma grande companhia, desde criança"] e se aposentar "bem velhinha, tendo um estúdio de som no campo ou em alguma serra, com uma paisagem linda e sons da natureza ao redor".

Perguntada sobre como é ser uma mulher em uma área dominada pelos homens, Roberta diz achar engraçada essa curiosidade. "Sempre me coloquei como uma pessoa, uma profissional do áudio, não como 'uma mulher fazendo isso', e meio que fui ignorando aqueles que torciam o nariz. De verdade, quando você para para pensar, é tão absurdo te julgarem profissionalmente pelo seu sexo, né? Mas vivemos em uma cultura machista geral no Brasil, e o preconceito acontece em várias profissões, infelizmente. Na grande maioria das vezes, todos me tratam bem, mesmo os mais desconfiados, pois depois de alguns minutos de conversa logo veem que sou tão da 'graxa' quanto eles [risos]", encerra Roberta, que está sempre postando na página no Facebook Mulheres do Áudio (www.facebook.com/MulheresDoAudio), cuja idéia é apoiar, incentivar e ajudar a inserir ainda mais a mulher no mercado do som.


BATE-BOLA

Console: Das analógicas, gostei muito das da Soundcraft MH-4 e Series Five. Das digitais, Yamaha PM5D-RH. As SD, da DiGiCo, são um primor, e as Vi da Soundcraft e a ILive da Allen&Heath são muito boas também.

Microfone: Tudo sempre vai depender da aplicação, da situação, do instrumento/voz em que ele será utilizado.

Equipamento: Microfones e sistemas de PA. Adoro pesquisar, testar e ouvir todos os possíveis.

Periférico: Distressor, da Empirical Labs

Monitor de chão: L'Acoustics HQ 115 e Meyer Sound UM-1C

Última grande novidade lançada no mercado: Acredito que a possibilidade de controlar mesas via roteador e aplicativos foi bem marcante e útil

Casa de shows no Brasil: HSBC Brasil e Citibank Hall, em São Paulo, e achei bem legal o sistema da Admson montado no Teatro Bradesco de Belo Horizonte

Melhores companheiros de estrada: Um bom par de fones, uma boa seleção de músicas e de filmes [risos]

Sistema de som: L'Acoustics K1

Processador: Galileo

Plug-in: Os da SSL são muito bons, sempre, em qualquer situação

SPL alto ou baixo? Por que? Pressão não é volume, né? Mesmo mixando muita banda de rock, detesto aquela sensação de "derretendo a cera do ouvido", de ficar com zumbido depois. A audição é o meu principal instrumento de trabalho, e tenho que cuidar bem dela. E do público também, que é quem paga para curtir um bom som ao vivo.

Melhor posicionamento da house mix: No centro, bem no meio da plateia, na metade da largura da profundidade do local ou até metade da distância entre o palco e o primeiro delay. E que não seja dentro de nenhuma sala ou embaixo de mezaninos e similares [risos].

Técnicos inspiração: Florencia Saravia e Karrie Keyes. Sim, estou puxando a brasa para a sardinha das mulheres, não por serem mulheres, mas porque realmente são grandes e os primeiros exemplos para mim.

Sonho de consumo na profissão: Ter alguns equipamentos próprios, como prés e compressores analógicos e kit de microfones para bateria

Sonhos já realizado na profissão: Ter trabalhado em shows, festivais e com artistas que admiro; ter feito PA no Circo Voador e no Hangar 110, lugares sobre os quais sempre lia a respeito na adolescência e onde tocavam artistas que eu ouvia; ter feito PA da Vivendo do Ócio no Lollapalooza em 2013, show que teve uma ótima aceitação.

Dicas para iniciantes: Fujam enquanto ainda dá tempo, pois depois que o "bichinho do áudio" te morder, não tem mais volta [risos]. Mas como imagino que vocês não vão me ouvir, façam tudo com amor, dedicação, entusiasmo, troca, estudem muito e sempre, porque precisamos de mais profissionais assim.

 
Conteúdo aberto a todos os leitores.