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Revista Luz & Cena
Lugar da Verdade
Salas ou... reverbs!
Enrico De Paoli
Publicado em 04/11/2014 - 00h00
Se hoje não é o mais sedutor de todos os processadores em um estúdio, certamente um dia já foi. Falo do reverb, que nada mais é do que um simulador de salas. Sim, gosto sempre de lembrar as origens do que é gravar áudio. Sobretudo áudio para música. Da mesma forma que nossos olhos, ao verem uma fotografia, na verdade estão simplesmente vendo reflexão de luz, nossos ouvidos, ao ouvirem uma gravação, estão ouvindo todo o espaço que existe entre o instrumento e o microfone através das reflexões. São os sons dessas reflexões que fazem o nosso cérebro imaginar o espaço onde aqueles sons estão, sem que precisemos vê-los.

Continuando nas origens da gravação de música, quando se gravava com apenas um microfone, era no posicionamento dos instrumentos em volta desse microfone na sala que se mixava o disco. Ou seja, se um instrumento estava alto demais, chegava-se aquele músico mais para longe do mic. Se era necessário mais volume, aproximava-se o músico do microfone. Porém, este afastamento não mudava apenas o volume do instrumento, mas naturalmente dava ao som do mesmo uma característica de distância, devido às reflexões (ou reverberações) que o som distante do microfone passava a ter.

Com os avanços da gravação multitrack, perdeu-se a necessidade de gravar com apenas um canal e um microfone. Logo passamos a ter um microfone para cada instrumento, sendo gravado em seu canal dedicado na fita (sim, se você acabou de chegar: gravava-se em fitas magnéticas antes dos computadores!). Se temos, então, um microfone por instrumento, não precisamos mais chegar o músico para longe quando seu instrumento parece alto demais. Basta abaixar o volume do canal daquele microfone. Ok! Mas... cadê aquele "espaço" que era gravado no som daquele instrumento, nos mostrando que aquele músico está agora mais longe? Perdemos.

Enquanto gravações eram feitas exclusivamente em estúdios ultraestruturados por engenheiros ultracapacitados, estas produções multitrack eram feitas com muito critério, e os grandes estúdios tinham, além de muito espaço, salas variadas com características reflexivas igualmente diversas. E estas salas eram escolhidas e microfonadas de forma que o espaço delas era também gravado. Porém, como nunca estamos satisfeitos, e um estúdio, ainda que bem grande, não comporta todas as salas do mundo ao toque de um botão... criou-se o reverb.

Os primeiros reverbs eram mecânicos, como eram os casos dos plates e spring-reverbs. O primeiro, uma espécie de alto-falante que gerava o som em folhas de metal dentro de uma caixa acústica, que eram, então, microfonadas. O segundo, reverb de mola, era um sistema semelhante, porém o áudio vibrava esta mola de metal e era então captado do outro lado dela. Ambos simulavam alguma reverberação, porém de forma absolutamente artificial às reflexões de uma sala real. E então vieram os venerados reverbs digitais. Vários equipamentos clássicos surgiram a partir daí.

Façamos um fast-forward até agora, após a invasão dos DAW (Digital Audio Workstations) e dos plug-ins. E o ponto é: eu contei essa longa história pra lembrar a uns (e mostrar a outros) que os reverbs não são apenas temperos. Eles de fato surgiram como uma ferramenta para o engenheiro posicionar sons e instrumentos em determinados espaços acústicos, ou... salas.

Hoje vivemos no futuro. A era do "tudo-pode". Então podemos mixar uma bateria dentro de uma sala que soa como um quarto, e uma voz dentro de uma sala que soa como um ginásio. Está correto fazer isso? A minha opinião sempre é: se soar bem e combinar com a música, por que não? E aquela perguntinha que não morre jamais: os reverbs hardware são melhores do que os plug-ins? Bem, se estamos falando de um reverb digital como um SPX990, pense que ele é um equipamento em que o áudio entra analógico, é convertido pra digital e então é processado por um DSP interno.

O plug-in faz exatamente isso. O áudio dentro do computador já é digital, e o plug-in usa o processador do computador para atuar em cima do áudio gerando o reverb. Qual é melhor? Bem, cada um tem um conversor diferente, processadores diferentes e, o mais importante, cálculos totalmente diferentes. Qual soa melhor pra este instrumento desta sua mix? Então este é o melhor pra esta aplicação.

Boas mixes!

Enrico De Paoli é engenheiro de música. Com mais de 30 anos anos de carreira (há 15 escreve para a AM&T) e dois prêmios Grammy conquistados, tem em seu currículo trabalhos com nomes que vão de Titãs a Ray Charles. Conheça parte de sua história, discografia e treinamentos Mix Secrets em www.EnricoDePaoli.com.

 
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